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Em outubro deste ano, os professores e pesquisadores Inês Dourado, do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (UFBA), e Laio Magno, da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), respectivamente coordenadora e vice-coordenador do PrEPara Salvador, partiram em missão de trabalho para os Estados Unidos com intuito de apresentar o projeto PrEP1519 em universidades e instituições de pesquisa norte-americanas. De acordo com Inês, essa troca de experiências simboliza a retomada da agenda de reuniões regulares que sempre ocorriam com diversos parceiros.

A primeira parada foi na Brown University, localizada na cidade de Providence, capital do estado de Rhode Island. A Brown University faz parte do seleto rol de oito universidades que integram a Ivy League, que são consideradas instituições de  excelência da Região Nordeste dos Estados Unidos. Dados do PrEP1519 foram apresentados no Brown University AIDS Program (BRUNAP), uma colaboração entre a Brown University e o Miriam Hospital, também em Providence, e que tem o objetivo de fornecer treinamento de ponta e programação educacional em HIV/aids e outras infecções sexualmente transmissíveis (IST). A apresentação foi feita pelo Zoom, visto que as atividades na Universidade ainda não retornaram completamente. Mas, os que estavam presentes na plataforma, mostraram-se bastante interessados nos dados e análises da pesquisa. Inês conta que muitas perguntas interessantes surgiram e a Amanda Selfie, “robôa” travesti que é uma inteligência artificial do PrEP1519 e executa uma série de ações voltadas para o diálogo com jovens e prevenção do HIV, despertou, como sempre, bastante curiosidade.

Os pesquisadores visitaram, ainda, a Open Door Health Clinic, primeira clínica com foco na população LGBTQIA+ de Rhode Island. Esse espaço é uma iniciativa do Rhode Island Public Health Institute (RIPHI), organização da sociedade civil que, em parceria com a Brown University, centraliza esforços em questões de saúde pública. Segundo Inês, apesar do foco em HIV e atendimento de IST, o serviço de saúde de “portas abertas”, como sugere o nome em inglês, também se volta para a atenção primária. “Eles atendem e veem a pessoa como um todo”, relata. “A pessoa tem uma queixa de IST, mas também uma infecção respiratória, eles tratam. E a clínica está aberta para outras marcações, inclusive está aberta para a população em geral”, acrescenta.

O RIPHI conta com a direção executiva da Dra. Amy Nunn, professora na Brown University School of Public Health que desenvolve pesquisas sobre as desigualdades raciais, prevenção e tratamento do HIV, e coordena estudos de implementação de Profilaxia Pré-Exposição (PrEP). Ela e o Dr. Phil Chan, infectologista pioneiro nos estudos de PrEP em Rhode Island e vinculado ao Miriam Hospital, são os idealizadores da Open Door Health Clinic. Dessa maneira, a continuação de parcerias e diálogos com a Dra. Amy Nunn e o Dr. Phil Chan foi também discutida, principalmente para o pós-pandemia. “Quando a gente puder transitar mais pelo mundo de forma presencial”, evidencia Inês.

Por três dias, a agenda de Inês e Laio envolveu conhecer a clínica “em toda sua potencialidade”, nas palavras da professora. A partir de uma prática chamada job shadowing, eles acompanharam os atendimentos dos médicos e da enfermagem – tudo com consentimento dos clientes da clínica. A partir dessa imersão, foi possível traçar as semelhanças e diferenças entre o trabalho realizado na Open Door Health Clinic e na clínica do PrEPara Salvador. Uma diferença fundamental entre ambas é a questão do financiamento, visto que o Brasil possui o Sistema Único de Saúde (SUS) e, nos Estados Unidos, não existe um sistema público de saúde. “É um sistema bem diferente do nosso nessa parte de financiamento. E é uma das questões nos EUA em relação ao acesso à PrEP, que tem sido menor que o esperado. E uma das hipóteses, já descrita, é a necessidade de ter alguém que pague por isso, seja o seguro de saúde, uma ONG [organização não-governamental] ou do próprio bolso”, ressalta Inês.

Do ponto de vista do atendimento, a clínica possui um espaço bastante amigável, como o espaço do PrEPara Salvador. “E nisso temos várias similaridades: é um local no centro da cidade, como o nosso, em Salvador. Muito bem decorado, ambientado, muito bem pensado. Tudo organizado para ser um espaço amigável e acolhedor para a população LGBTQIA+ e inclusive com vários elementos de comunicação para essa população”, descreve Inês.

É válido ressaltar que a PrEP nos Estados Unidos é para quem decidir utilizar, ao contrário do Brasil, onde é indicada para populações consideradas em risco acrescido para o HIV. Desse modo, Inês explica que homens e mulheres heterossexuais, se quiserem, podem se dirigir a essa clínica para avaliação de elegibilidade da PrEP, e decidirem usar.

Troca de experiências entre os pesquisadores Laio Magno, Amy Nunn, Inês Dourado e Phil Chan na Open Door Health Clinic, nos Estados Unidos

Os coordenadores do PrEP1519 visitaram e apresentaram dados do estudo também na Escola de Saúde Pública da University of California at Los Angeles (UCLA), a convite do Professor James Macinko do Departments of Health Policy and Management and Community Health Sciences, atual Vice-Diretor da UCLA Fielding School of Public Health – outro colaborador de longa data de Inês e do Instituto de Saúde Coletiva da UFBA. Discutiram também o Projeto dos Determinantes Sociais do HIV/AIDS (DSAIDS), e foram feitas várias reuniões presenciais que envolveram novos ciclos de trocas de experiências, além de planos para o futuro.

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