Em países de baixa, média e alta renda, a população de mulheres transsexuais e travestis tem sido desproporcionalmente afetada pelas infecções sexualmente transmissíveis (IST) e, por isso, desde 2019 até este ano, o estudo TransOdara buscou construir uma rede de pesquisa com o objetivo de estimar a prevalência da sífilis e de outras outras IST nessa população, considerando participantes maiores de 18 anos. Sob o título oficial de “Estudo de prevalência da sífilis e outras infecções sexualmente transmissíveis entre travestis e mulheres transexuais no Brasil: cuidado e prevenção”, a pesquisa foi realizada pelo por mais de 40 pesquisadores e analistas de 20 diferentes universidades e instituições de ensino nacionais e internacionais (dentre elas, Santa Casa de São Paulo, Universidade Federal da Bahia – UFBA, Universidade do Estado da Bahia – UNEB, e Public Health England/University College London).
Trata-se de um inquérito transversal que utilizou abordagens metodológicas quantitativas e qualitativas em cinco grandes capitais das cinco macrorregiões do Brasil: São Paulo (SP), Campo Grande (MS), Manaus (AM), Porto Alegre (RS) e Salvador (BA). Na capital baiana, sob a coordenação da Profa. Dra. Inês Dourado (ISC/UFBA) e do Prof. Dr. Laio Magno (DCV/UNEB), o acolhimento do TransOdara às participantes trans e travestis ocorreu no âmbito da clínica do PrEPara Salvador. Além da clínica, a execução do TransOdara na Bahia contou também com staff do PrEPara Salvador em atividades administrativas, clínicas, laboratoriais, na supervisão do trabalho de campo, na enfermagem, entrevista, mobilização de rede, médicos, recepção, acolhimento e afins. A frutífera parceria buscou fortalecer laços entre diferentes pesquisas, mas que visam ampliar a garantia de saúde e direitos sexuais para a população LGBTQ+.
No final de julho deste ano, entre os dias 28 e 29, o TransOdara realizou devolutiva do projeto no Casarão da Diversidade, espaço que abriga a clínica do PrEPara Salvador, para encerrar o estudo, apresentar dados clínicos e epidemiológicos, falar sobre prevenção e cuidado de IST, debater as práticas de acolhimento e encaminhamentos do projeto e debater as necessidades de saúde de mulheres trans e travestis da capital baiana. “O importante para mim ter participado do TransOdara foi a empatia, o acolhimento e a educação dos profissionais que nos atenderam”, enfatiza Karla Zhand, travesti, ativista LGBTQI+ e participante do estudo em Salvador. A enfermeira do PrEPara Salvador e TransOdara, Thaís Fonseca, acrescentou que o projeto incentivou o aprimoramento de sua atuação profissional: “Pude, como enfermeira, aprender novas técnicas e lidar com um público com necessidades mais específicas em relação à aplicação de medicamentos”. E acrescenta que o estudo é muito importante no auxílio de construção de políticas públicas para a população trans e travesti.