Salvador (BA) – Além de promover o cuidado para meninas trans de 15 a 19 anos, o PrEPara Salvador tem em seu quadro de colaboradores pessoas de diferentes identidades de gênero.
Segundo a professora do Instituto de Saúde Coletiva (ISC/UFBA) e coordenadora do projeto, Inês Dourado, é fundamental que as pesquisas em HIV/aids envolvam as comunidades investigadas. “Na história da prevenção do HIV/aids, o community engagement é fundamental para a implementação de medidas de prevenção e tratamento”, acrescentou a professora.
Community engagement, ou mobilização comunitária, é um conceito relacionado à ideia de trabalhar junto com a comunidade, no sentido de direcionar questões que impactam no bem estar de seus membros, capacitando-os para lidar com problemas e buscar soluções em comum.
Acolhimento
Na capital baiana, a clínica do projeto funciona no Casarão da Diversidade, situado no Pelourinho, Centro Histórico da cidade. No espaço da Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social da Bahia (SJDHDS) são oferecidos diversos serviços, ações e iniciativas de cidadania e proteção da população LGBTQI+.
Os movimentos sociais de pessoas trans e travestis denunciam frequentemente situações de transfobia nos serviços de saúde. São casos de discriminação, falta de qualificação dos profissionais e acolhimento inadequado, além da ausência da garantia de serviços específicos para esse público.
O colaborador, homem trans, professor e TransArtista Dante Freire destacou o impacto positivo de ter pessoas trans envolvidas no processo de acolhimento a indivíduos com a mesma identidade. “Ter possibilidades de existência em um ambiente de saúde é a essência do que se entende por acolhimento. É mais do que a reivindicação de um direito, trata-se de ressignificar, tratando-se da importância da construção dessas pontes de cuidado às corpas e aos corpos marginalizados, sobretudo em espaços de saúde”, concluiu Dante.
Convívio
A inclusão de colaboradores trans no mercado de trabalho demanda cautela. Para além da contratação de funcionários trans, é preciso criar um ambiente onde essas pessoas se sintam seguras e respeitadas.
De acordo com Bruno Santana, colaborador do projeto, homem trans e TransAtivista, o espaço de saúde que se propõe a trabalhar com diversidade, precisa refletir essa diversidade no seu quadro profissional, naturalizando e legitimando essas diferenças.
Não limitando-se ao cuidado em saúde, a inclusão de pessoas trans deve ser praticada em todas as áreas como resposta à marginalização. Sem legislação específica que garanta espaço no mercado de trabalho, transexuais e travestis dependem de iniciativas pontuais por parte de algumas empresas.
Bruno Santana acredita que o trabalho em uma equipe diante de realidades diversas traz novos horizontes e perspectivas a serem construídas em busca do melhor resultado. Para o colaborador, empresas e serviços que se identificam como progressistas devem tratar a questão com prudência. “Ter pessoas trans inseridas em qualquer espaço, inclusive no da saúde, é fundamental para qualquer serviço comprometido com seu papel social e que entende a importância da inclusão pela representatividade”.
Com o objetivo de garantir a harmonia no espaço de diversidade, “promovemos regularmente no Prep 1519 reuniões, grupos de trabalho com participação de pessoas cis e trans; treinamento e formação de equipe multidisciplinar”, finalizou a coordenadora Inês Dourado.