Neste dezembro que marca o mês da campanha de conscientização pela prevenção ao HIV e outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), o estudo PrEP1519 Escolhas contribui de forma significativa com o debate publicado nos Cadernos de Saúde Pública (CSP), que é uma renomada revista brasileira, de amplitude internacional, destinada à publicação de artigos científicos voltados para a produção de conhecimento no campo da Saúde Coletiva e contribui para reflexão crítica e debate envolvendo políticas públicas.
Clicando neste link você pode ler os quatro artigos.
Confira abaixo um resumo dos temas abordados e publicados no CSP.
Epidemia de HIV, tecnologias de prevenção e as novas gerações: tendências e oportunidades para a resposta à epidemia – Alexandre Grangeiro et al
O aumento da incidência de casos entre adolescentes e jovens pode representar um maior distanciamento entre a resposta ao HIV e as especificidades das novas gerações, o que pode estender a epidemia por um longo período, contrariando a meta da UNAIDS de eliminá-la até 2030. É apresentado como uma nova política a hierarquização da oferta de métodos preventivos, com a priorização da profilaxia pré-exposição (PrEP) e o enfrentamento dos determinantes sociais da epidemia do HIV, incluindo estratégias de redução do estigma. Reforça-se, ainda, a importância da participação de adolescentes e jovens na construção da política e a necessidade de uma resposta intersetorial.
Quarenta anos da resposta brasileira ao HIV: reflexões sobre a necessidade do salto programático e a política como bem comum – Alexandre Grangeiro et al
Marcando os 40 anos das primeiras ações brasileiras contra o HIV, objetiva-se retomar a discussão com a sociedade brasileira que permita “acordar” a política de HIV de acordo com a nova realidade socioepidemiológica. Mesmo com a variedade de métodos de prevenção disponíveis, existe o desafio de superar a persistência das barreiras de acesso e as intensas mudanças geracionais, que alteraram os modos de se relacionar sexualmente e de se mobilizar coletivamente, o que dificulta a tão almejada eliminação do HIV. É indispensável, portanto, um olhar crítico sobre as políticas de prevenção, considerando aplicar à política o conhecimento consolidado sobre as dimensões psicossociais, econômicas e culturais que interferem na prevenção. O artigo defende, assim, que nossa defesa pela hierarquização da oferta não se opõe ao direito de acesso e à obrigatoriedade de disponibilização pública dos métodos, mas propõe um guia à organização da política, à orientação dos profissionais e gestores, e à clareza de informação à sociedade.
Direitos humanos, vulnerabilidade e reflexão crítica sobre prevenção do HIV/aids em contexto de sindemia – Paiva e Ares et al.
É feita crítica ao que se chama de “universalização fracionária” ao defender que a prevenção combinada tem sido frequentemente traduzida como uma “cesta” de opções preventivas a serem “consumidas” segundo o interesse e conveniência de cada indivíduo, que poderia ter acesso a qualquer uma das tecnologias preventivas disponíveis. Acontece que essa proposição esconde aspectos interconectados e subjacentes a uma oferta apenas aparentemente equitativa de recursos e equivalente em suas implicações práticas, desconsiderando mascarando um contexto histórico, econômico, político e cultural. A oferta e o consumo supostamente espontâneos dessas tecnologias configuram, de forma acrítica, uma política de resposta à epidemia de HIV/aids que deveria estar sendo debatida e construída no espaço público como bem comum, subsidiada por evidências científicas e orientada por exame de caráter ético-político. Por isso diz-se que é fracionária.
Repensando a prevenção do HIV entre jovens: hierarquização ou desinstitucionalização? – Draurio Barreira et al.
Reforça-se a importância de entender o que é sexo seguro após quatro anos de epidemia, debate importante de ser realizado particularmente pelo surgimento de novas tecnologias preventivas e de uma profunda transformação sociocultural nas formas de interações afetivas, sobretudo entre a população de 15 a 24 anos, faixa etária na qual foi registrado o crescimento da taxa de detecção de casos de aids, de acordo com os dados epidemiológicos.
O artigo defende que há o ensinamento de que não se deve sobrevalorizar um método de prevenção, como foi feito em relação ao preservativo nos últimos 40 anos. Diante de tantas opções, o foco não deve ser eleger um método de prevenção, e sim priorizar a inovação de propostas programáticas que oportunizem seu acesso. É preciso reconhecer os limites e as potencialidades de todos os métodos preventivos disponíveis e considerar a complexidade de enfrentar os desafios programáticos da prevenção ao HIV. Nesse sentido, a atual política de prevenção do HIV deve, sim, priorizar segmentos populacionais em situação de maior vulnerabilidade, na perspectiva de ampliar o acesso e subverter a tradicional lógica assistencial em saúde, centrada unicamente nos estabelecimentos e profissionais de saúde.