Rafael Santana
Cooperação e troca de experiências em relação à prevenção ao HIV e outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) têm sido a tônica da visita dos pesquisadores norte-americanos Dra. Amy Nunn e Dr. Philip A. Chan ao Brasil. Na última terça-feira, eles ministraram a palestra “Inovações na prestação de cuidados de saúde para HIV e Monkepox”. A sessão foi realizada no auditório do Departamento de Ciências da Vida da Universidade do Estado da Bahia (DCV/UNEB) e teve coordenação dos pesquisadores Dra. Inês Dourado e Dr. Laio Magno, coordenadores do projeto PrEP1519 em Salvador.
Dra. Amy Nunn e Dr. Philip A. Chan são professores da Universidade de Brown, vinculados ao departamento de Ciências Sociais e Comportamentais, uma das mais antigas dos EUA e mais prestigiadas do mundo, que fica em Providence, no estado de Rhode Island.
Dr. Chan é médico infectologista e atua como diretor médico da única clínica de infecções sexualmente transmissíveis com financiamento público de Rhode Island. Ele desenvolve trabalhos voltados para implementação e aceitação da Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) e está estudando maneiras de promover testes de HIV domiciliares para populações em contexto de alto risco de infecção.
A Dra. Nunn é cientista social de formação e exerce o cargo de diretora executiva do Instituto de Saúde Pública de Rhode Island. Ela tem histórico de pesquisa em tópicos de saúde em diversos países, inclusive no Brasil, tendo publicado, em 2009, o livro “Política e História do Tratamento da AIDS no Brasil”.
Dra. Amy Nunn realiza pesquisas e lidera programas de saúde pública focados em reduzir as disparidades e promover acesso à saúde entre as pessoas mais socialmente vulneráveis. Em 2020, a pesquisadora inaugurou a clínica Open Door Health, a primeira voltada para a comunidade LGBTQIAPN+ de Rhode Island, onde são oferecidos serviços da atenção básica, de saúde sexual, testes para COVID-19, tratamento e um programa de tratamento para Monkeypox.
Durante a palestra, os pesquisadores apresentaram as dificuldades enfrentadas no tratamento e prevenção ao HIV no estado de Rhode Island. De acordo com Dra. Amy Nunn, existe um grande desafio no sentido de incentivar o público a manter o tratamento, uma vez que mais da metade das pessoas interrompe o uso da PrEP. Diferentemente do que acontece no Brasil, não há nos Estados Unidos um sistema público de saúde que ofereça gratuitamente esta profilaxia.
– Existem muitos problemas sociais nos EUA, e isso se manifesta no acesso aos serviços, entre eles o de saúde. Não temos um serviço de saúde muito bom. Temos uma grande crise que piorou nos últimos anos. Diminuir as desigualdades e melhorar o acesso para pessoas mais vulneráveis requer criatividade e foco. É isso que a gente faz com os nossos institutos – afirmou a pesquisadora.
Ela prossegue:
– Na nossa clínica (Open Door Health), se as pessoas não podem pagar, atendemos de qualquer forma e perdoamos a dívida – concluiu.
Prosseguindo com a troca de experiências, o Dr. Philip A Chan explicou que o maior desafio consiste em acessar a população rural de Rhode Island – 63% dos casos de HIV se concentram nessa região. Ele diz que há um surto, de modo que é preciso investir em ações voltadas à prevenção e tratamento das IST nesta população. Para Chan, existem quatro focos no trabalho de prevenção ao HIV:
A palestra foi encerrada com uma roda de perguntas e compartilhamento de experiências de pesquisadores brasileiros. Vale destacar que os pesquisadores norte-americanos conheceram, na última segunda-feira, o Casarão da Diversidade, espaço que abriga o projeto PrEP1519 em Salvador, voltado para a prevenção combinada ao HIV entre o público de adolescentes homens que fazem sexo com homens, mulheres trans e travestis com idade entre 15 a 19 anos.